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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O anel dos nibelungos de Wagner

O fato de O Anel dos Nibelungos - uma obra a que Richard Wagner dedicou quatro anos de criação, de 1848 a 1852 - ter sido, por toda a sua existência, tão atraente comprova a capacidade de Wagner de dar expressão, através da sua música e do seu talento teatral, a motivos universais ou a experiências humanas arquetípicas que constituem temas em constante repetição na vida. Não há bons casamentos nem famílias felizes na mitologia clássica. Há em toda parte uma hierarquia. Uma figura paterna autoritária manda em todos. O deus principal age por interesse próprio, impondo sua vontade e seus desejos; considerado em termos psicológicos, ele é o modelo de uma personalidade autoritária e narcisista. As mulheres - quer como mortais, como deusas ou como símbolos femininos - são, com raras exceções, oprimidas, sacrificadas ou humilhadas. O estupro é a norma, e o poder, em vez do amor, é o princípio predominante. Filhos e filhas ou se sujeitam em busca de aprovação quando são extensões obedientes da vontade do pai, ou são sacrificados, rejeitados, raptados, punidos, ignorados. A mitologia de uma cultura, nesse caso, a civilização ocidental, nos instrui acerca dos valores, padrões e pressupostos em que se baseia essa cultura. Ficar imerso em O Anel dos Nibelungos, na forma de ópera, de musica ou de história, é ter uma experiência comparável a uma série de sonhos muito intensos. Lembramo-nos das partes importantes, e aquilo que é de fato significativo pode permanecer vividamente na nossa memória. Quando o sentido fica claro, vem uma exclamação que nos revela por que ficamos fascinados ou estimulados por um incidente particular e por que percebemos alguma faceta de nós mesmos da nossa vida que, como a verdade, nos fortalece. Com O Anel dos Nibelungos também acontece isso, mas podemos retornar repetidas vezes à experiência em si, cada vez, quem sabe, atraídos por mais um símbolo ou parte da história, uma história que teve variações acerca dos temas do amor e do poder - que permeiam e afetam a vida de todos nós. Cada uma das quatro óperas introduz variações sobre o tema principal: o poder em oposição ao amor e o efeito da busca do poder sobre as pessoas e os relacionamentos. Em O Ouro do Reno (Das Rheingold), a ópera que serve de prelúdio a tudo o que acontece, o anel dos Nibelungos - que se torna o símbolo preponderante nas quatro óperas - é forjado por Alberich, um anão, ou nibelungo. Trata-se de um anel do poder; quem o possui pode dominar o mundo. Aquele que forjar o anel deve renunciar ao amor para sempre. O entendimento psicológico nos ajuda a compreender de que modo isso acontece e por que Alberich, que simboliza a criança rejeitada e vítima de maus-tratos, a sombra que pode nos acompanhar por toda a vida pedindo vingança pelas nossas humilhações da infância, vai pagar esse preço. Alberich representa um lado sombrio da personalidade que está por trás da busca do poder sobre os outros. Enquanto Alberich forja o anel, Wotan, que equivale a Zeus, faz um contrato para a construção do Valhalla como monumento ao seu poder, à sua masculinidade e à sua fama eterna. Wotan acredita que pode deixar de pagar o preço quando for a hora de acertar as contas. Ele prometeu dar aos construtores Freya, a deusa do amor e da juventude, as próprias qualidades habitualmente sacrificadas por homens ambiciosos.

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